22. 1 lago, 2 camas e 3 gajos

E estava quase o Baixo Tatra todo feito quando desviámos para Vlkolínec, a aldeia museu. Metemos-nos por uma estrada estreita muito engraçada que parecia enfiar-se num pequeno vale. À nossa volta uma paisagem natural extrema, onde tudo parecia intocado.



Depois a estrada começou a subir um pouco encosta acima e chegámos ao parque de estacionamento.



Vlkolínec é uma das dez aldeias típicas eslovacas que recebeu o estatuto de reserva protegida de arquitectura popular. Foi-lhes atribuído pela arquitectura tradicional complexa e intocada que exibem no seu conjunto habitacional. Esta aldeia está também listada como património mundial da UNESCO desde 1993. A aldeia encontra-se praticamente intacta e é na região o grupo mais completo de casas de madeira (mais de 45) deste tipo que se costuma encontrar nas áreas montanhosas. Deixámos as motas no estacionamento e subimos a colina por onde a aldeia se encontra repartida.



Logo na entrada há uma espécie de escultura que se assemelha a um totem. Quisemos aí tirar um auto-retrato. Meti a máquina no tripé e sugeri uma “palhaçada” qualquer que resultou na foto abaixo. E daí em diante fomos registando outras do género sempre que podíamos.

Um totem e três aves raras (Miguel, Daniel e Rui) - Vlkolínec, Eslováquia

E porquê um pé-coxinho de braços abertos?!... Não faço ideia… Provavelmente, fazer o pino custava mais! Chamemos-lhe doravante a posição da “ave rara”.

Vlkolínec tem uma rua mais ou menos a direito que sobe até ao topo da colina. É à volta dessa rua que estão dispostas as casas.



As casas estão habitadas, há gente que mora aqui. Ou pelo menos que passa aqui as suas férias. A construção das casitas é engraçada, são todas feitas em madeira estando alguma depois pintadas em cores garridas.







Subimos até ao cimo onde corre um ribeiro numa espécie de pequeno moinho de brincar, e voltámos para baixo.




O local paisagisticamente falando é glorioso. Daqui tem-se uma vista desafogada para o vale. Um cenário magnífico.



Aqui é que é bom! (Daniel e Rui) - Vlkolínec, Eslováquia

Regressámos às motos e descemos pela estrada por onde tínhamos vindo.

Parámos mais ou menos a meio para tirar mais uns retratos. À ida para cima este canto tinha ficado debaixo de olho, a estrada fazia ali uns “esses” muito fotogénicos.



Também tirámos um auto-retrato de retaguarda no chão, mas não fiquei convencido. A pose da ave rara tem muito mais glamour.

Mais um bocado de serra e saíamos do Tatra. Passámos por uma ou duas cidades de aspecto industrial e voltámos a enfiar-nos no campo. Muito verde também por aqui e algumas aldeias do mesmo género que já tínhamos visto de manhã. Recordo que atravessámos uma que parecia não ter fim. Uma longa estrada a direito (mas mesmo muito longa!) ladeada por casas em ambos os lados de todas as cores... Sem exageros uns 3 ou 4 quilómetros disto!

O tempo estava mais fresco a Norte e o dia também já ia perto do fim. A estadia estava planeada para as imediações de Namestovo num casarão grande de férias mesmo à beira lago. Dado que já estava na hora, decidimos passar primeiro por Namestovo para jantar. Namestovo é uma cidade pequenina plantada à beira de um lago com o mesmo nome. E é em redor do lago que parece estar todo o potencial turístico do local. A cidade está a Norte do lago, o que nos obrigou a atravessar o lago por uma longa ponte. Depois logo à saída da ponte estão as atracções principais que se resumem a dois ou três restaurantes de uns pequenos hotéis virados para o lago. Havia ali também um bar para motards mas achámos que seria ainda um pouco cedo para lá entrar.

À beira lago (Daniel, Miguel e Rui) - Namestovo, Eslováquia

Assim entrámos num dos hotéis cujo restaurante estava aberto. E digamos que o restaurante estava todo “armado aos cucos”. Tudo num tom imaculado e predominantemente branco, com uns centros de mesa que pareciam monumentos. O empregado também com uma postura alinhada ao cenário, e nós um bocado cansados, com boa barba e com o equipamento de mota já sujo destes dias de viagem. Uns porcalhões, vá… Bem, venha mas é o que interessa, não estamos cá para mandar estilo! A ementa era variada e sem pizzas ou massas, ufa!!! Em temos de sabores achei que era mais ou menos o mesmo que na Hungria: carnucha de porco ou de aves, panada ou não, acompanhada com a esmagada de batata… Mas aqui tudo em versão pipi, ou seja com uma apresentação cuidada. Estava bom, mas convenhamos, nada de excepcional. O certo é que ficámos bem e foi bem agradável jantar com vista para o lago.



Mais 4 ou 5 quilómetros até ao outro lado do lago e estávamos no hotel que nos iria receber esta noite. Tratava-se de um casarão grande de três andares, mesmo junto à margem do lago e rodeado de pinheiros altos. Muito castiço!

O local pareceu-nos muito sossegado mas, mesmo assim, deixámos as motas amarradas no estacionamento. Na recepção, no hall de entrada da casa não havia ninguém, aliás estava um tipo com pinta de chinês que nos apontou uma porta. Por esta acedia-se a um salão grande que servia de sala de refeições. Ao balcão estava um senhor com uma vasta barba branca. Tentámos falar com ele em inglês, mas zero… Mais uma tentativa e ele saiu porta fora… Foi buscar reforços. Com ele veio uma raparigona sorridente com uns 18 ou 20 anos, com a qual tentámos também falar. Arranhava alguma coisa de inglês, mas poucochinho. O suficiente para perceber que tínhamos ali feito uma reserva do Booking e logo nos indicou o caminho até ao último piso. Quando digo raparigona, refiro-me à altura, pois todas as outras medidas estavam na proporção certa! Uma miúda bonita de cabelos longos negros e pele muito branca, que por acaso não se encaixava muito no género de miúdas que por aqui tínhamos visto. Rapariga encantadora e parecia estar meio-envergonhada, talvez por não conseguir articular bem o inglês ou pela nossa aparência “exótica” por estas paragens. Quando tentou abrir a porta do quarto, a porta não abria… Fez ali um jeito duas ou três vezes e nada… Estava a ficar vermelha. Finalmente à quarta a porta lá abriu. Entrámos nos nossos aposentos e ela desapareceu escada abaixo.

O quarto ficava no piso de cima, encostado a um dos lados da casa. Uma espécie de águas furtadas. Tinha um hall pequeno que dava para três divisões, uma casa-de-banho completa, e dois quartos. No entanto uma das portas dos quartos estava fechada à chave. E no quarto acessível, surpresa das surpresas, apenas duas camas (uma delas de casal) para três marmanjos!

Ora… então temos aqui um problema. E agora explicar a esta boa gente que só fala bem eslovaco que aqui não temos casais… Vamos lá ao balcão lá abaixo. Estava lá a grandona que rapidamente percebeu as nossas queixas e foi chamar outra pessoa à cozinha… Ora se o barbudo é o pai, tu deves ser a filha, e esta só pode ser a mãe, ou pelo menos a mulher do barbas. A matriarca também não se desenrascava bem com o inglês, mas era mais viva e claramente dava as ordens ali… e chapéu! Disse-nos que a casa estava cheia e que ao preço que tínhamos reservado só mesmo assim. Mais camas só mudando para quarto maior, e logo mais caro também… Tá… Então olha, obrigado, fica mesmo assim a gente desenrasca-se…

Voltámos lá para cima, o Rui sacou de uma almofadas rectangulares que estavam por debaixo de uma das camas e fez outra encostada à parede e ali se deitou.

A caminha improvisada do Barradas (Rui e Miguel) - Namestovo, Eslováquia

Miguel ficou na cama mais pequena e eu na maior!



Ainda antes de deitar tomámos um banho. Pormenor curioso: as casas de banho eslovacas são amplas, assim como as banheiras que têm um formato triangular. Antes de deitar ligámos a TV para ouvir um bocado a língua deles. No zapping eis que dou com a emissão de uma novela brasileira. Segundo pormenor curioso, aqui as novelas são emitidas com o som original e um único tipo por cima a fazer a tradução, sempre no mesmo tom, sempre na mesma voz, de todos os personagens…

Novelas brasileiras na Eslováquia - Namestovo, Eslováquia

Então vá, boa noite, amanhã há mais!

0 comentários:

Enviar um comentário