25. Um cheirinho de Checa

Próximo destino: Viena. Não sem antes papar uma boa dose de quilómetros até lá! Poderíamos ter feito o caminho mais curto, mas tal implicava atravessar a Eslováquia em autoestrada até Bratislava (a capital) e daí então até Viena (distam uma da outra de 78 quilómetros). Dado que havia vagar e para poupar uns trocos decidimos fazer a coisa por nacionais e espreitar algumas coisas de caminho. Tínhamos duas opções: fazer o percurso inteiramente pela Eslováquia, ou subir um pouco até à República Checa e descer por aí até à Áustria. Optámos pela segunda. Durante o planeamento do itinerário tinham-se preparado os dois trajectos. Mas logo durante pesquisa nos pareceu que o lado Checo tinha mais encanto e ainda carimbávamos mais um país no “passaporte”!

Outrora unidos na Checoslováquia sob a égide do sovietismo, fica a impressão que a República Checa leva alguma vantagem sobre a Eslováquia. Os checos estão mais industrializados e isso vê-se nalguma opulência das suas cidades, com edifícios históricos e igrejas monumentais.

O quartinho - Čadca, Eslováquia

Saímos então de Čadca pela manhã cedinho, depois de tomar o pequeno-almoço no restaurante do hotel onde tínhamos jantado de véspera.

Limpeza matinal - Čadca, Eslováquia

O dia estava soalheiro e fresco, perfeito para devorar quilómetros. Não demorou muito até chegarmos à fronteira, que passámos sem qualquer problema. O receio que tínhamos de ter algumas dificuldades nalguns postos fronteiriços (na sequência da crise dos refugiados) não se verificou. Passámos todas as fronteiras sem qualquer reparo, aliás durante toda a viagem não vimos sequer qualquer controlo em nenhuma delas.

A entrada foi em grande: começámos por atravessar a região montanhosa dos Beskides (parte da cordilheira dos Cárpatos) situada junto à fronteira de Sudeste... muito catita sim senhor! Floresta de pinheiro alpino densa e carradas de povo em duas rodas na estrada, bicicleta e motociclo. Solinho com uma temperatura a rondar os 20ºC, as condições perfeitas para viajar. Passámos por uma ou outra estância de Inverno, que por esta altura estão paradas, como é natural. Tínhamos de caminho duas ou três cidades para apreciar. Também estava planeada uma paragem em Rožnov pod Radhoštěm, uma pequena vila que preserva ainda uma pitoresca aldeia museu do género de Vlkolínec que visitámos na nossa primeira incursão na Eslováquia.

Depois da montanha passámos por uma região mais agrícola com campos de cultivo extensos, muito parecido com o que também vimos no país do lado. Algures durante o percurso decidimos que não seria má ideia tirar um retrato... Encostámos junto a um caminho de terra batida, parecia ser um bom local para a foto. O estradão era um pouco irregular com alguns regos de rodas de tractor. O Sol já devia estar a pique e a temperatura já estava quente. Ainda suámos um bocadinho a ajeitar as motas para fotografia.

No campo - República Checa

Camufladas - República Checa

Quando já íamos na segunda foto, eis que aparece um tractor no caminho… Bolas!... Estava um fulano novo ao volante, mais um pequenote ao lado dele e atrás um velhote. O condutor mandou-nos um sorriso largo e arranhou qualquer coisa em checo… Já não me recordo como foi, mas percebemos que estava a perguntar-nos de onde éramos. Dissemos “Portugal”, e o tipo percebeu à primeira, respondendo um “Portugalscko!” ou algo do género… Ficaram todos contentes em nos ver, e nem foi preciso desviar as motas! Passaram ao lado por cima das ervas e foram à vida deles… Bem simpático o pessoal daqui.

O que não foi nada simpático, foi aquando uma daquelas passagens por uma aldeia, o GPS manda-nos por ruelas para no fim voltar à estrada principal. O problema é que o regresso à nacional era feito por uma estrada secundária um bocado íngreme e praticamente perpendicular. Entradas deste tipo têm de ser feitas com cautela, para não virar o “barco”. Seguia à frente e fiz a paragem normal para ver se a estrada estava livre. Até onde podia ver estava OK, quando lhe dou acelerador vejo uma “bala” a sair da povoação (um acelera numa desportiva qualquer). Tive de travar a marcha e com isso fiquei com a mota de direcção virada o que provocou um desequilíbrio. Com muita força de braço segurei o tigre pelo cachaço e por pouco não virámos as “palhetas” os dois… O filho de uma égua checa com a velocidade que ia nem se apercebeu da nossa presença! Se tivéssemos chegado ali instantes antes éramos capazes de ter arranjado problemas… Felizmente estava tudo bem, siga por esta estrada fora!

Chegámos a Rosnó-coiso-e-tal e logo o GPS nos levou ao núcleo museológico do sítio. Enquanto que aquela típica aldeia Eslovaca se encontrava perdida na encosta da montanha, esta estava no meio da cidade. Logo por isso perdeu algum encanto… Depois encontrava-se vedada e com acesso condicionado… 

Estacionámos as Tigers e fomos espreitar. Logo à entrada há uma bilheteira onde se encontra afixado o preçário: o bilhete para a volta completa estava nas 200 corôas checas (cerca de 7,5 euros) sendo também possível visitar apenas algumas partes a outros custos. Curiosamente aqui até os animais pagam, cerca de 2 euros para o acesso livre a todas as áreas… Sendo assim fica para uma próxima. Tínhamos as corôas contadas e ainda o nosso almoço para pagar.

Fomos rolando para Oeste passando por algumas cidades de média dimensão. Algo que se nota é a beleza dos centros históricos: igrejas com torres monumentais e a decoração de época cuidada nos edifícios mais antigos. Tudo impecavelmente estimado.

Estava na hora de almoçar e só conseguimos parar em Přerov. Estacionámos na praça principal mesmo em frente à esplanada de um restaurante.

A chegar para o almoço - Přerov, República Checa

O tempo estava bom, nada melhor do que almoçar ali mesmo.

Přerov, República Checa

Fomos atendidos por um jovem que arranhava qualquer coisita de inglês. Mesmo sem ver o interior, o restaurante parecia ter alguma pinta. Vimos a ementa e optámos todos pelos dumplings típicos daqui, que é basicamente um prato de carne acompanhado com fatias de pão (come-se muito pão por aqui), tudo mergulhado num molho bem condimentado que mais parecia uma sopa... Estava-se mesmo muito bem à sombra nesta esplanada.

O almocinho - Přerov, República Checa

Via-se pouco movimento na rua, pareceu-nos que havia ali por perto algum festejo pois algumas ruas estavam cortadas e andava pessoal com trajos típicos.

Praça principal - Přerov, República Checa

A comida estava boa e saborosa e sempre variava um pouco… E claro, não resistimos a mandar vir sobremesa!

A sobremesa - Přerov, República Checa

De novo na estrada, já a descer um pouco para Sul parámos noutra cidade, Prostějov. Como nas outras por onde passámos, aqui também se notava a riqueza histórica da arquitectura na praça central.

Prostějov, República Checa

Demos uma volta à praça para espreitar e tirar umas fotos.

Prostějov, República Checa

Apreciavam-se vários edifícios históricos com fachada trabalhada e imaculadamente preservada.

Prostějov, República Checa

A dominar a praça estava uma igreja com uma torre de dimensão colossal, infelizmente estava em obras.

Prostějov, República Checa

Bom, e está visto, não ficámos muito mais tempo por ali.

Continuámos o nosso caminho tranquilamente, sempre afastados da autoestrada, para ir apreciando o cenário. Passámos ao lado de Brno, que é a segunda maior cidade da República Checa. Não havia tempo e creio sobretudo que pachorra, para nos enfiarmos no meio da confusão… Amanhã com certeza haverá muito para ver também em Viena. E por falar nisso já não falta tudo para lá chegar. Ainda uma passagem pela bonita região de Pálava que faz fronteira com a Áustria. A entrada faz-se depois de atravessar uma albufeira de dimensões generosas.

Vista da albufeira - Pálava, República Checa

Parámos um pouco antes de chegar à Áustria para tirar um retrato.

A chegar à Áustria - Pálava, República Checa

O tempo continuava bom, ainda que um pouco mais fresco com o cair do Sol… Logo ao entrar na Áustria tínhamos de tratar da vinheta, já que íamos fazer o acesso à capital por autoestrada. Parámos numa barraquita mas aparentemente aí só vendiam vinhetas para automóveis. Seguimos até à próxima estação de serviço e aí conseguimos adquirir as ditas… Aproveitei para comprar uma garrafa de água, mas só depois de abrir é que me apercebi que era gaseificada… Este pessoal bebe água com gás como se não houvesse amanhã! Fica a dica, para evitar o mesmo deve-se escolher a água para as meninas, as da tampa rosinha, são essas as de água mineral não gaseificada… Daqui em diante o percurso tornou-se pouco interessante e rapidamente entrámos na autoestrada que nos levaria até à entrada da capital. Seguimos o GPS em direcção ao ponto marcado para a pernoita. Já no centro o trânsito estava caótico e aqui começámos a comprovar a falta de civismos destes tipos ao volante. Dois espelhos não chegam para controlar as manobras desta malta e é preciso ser rápido na mão direita, manete e punho! O pessoal fura por todo o lado, carrega no acelerador e ignora a sinalização quando dá jeito… Depois de um bom bocado disto chegámos a um quarteirão com aspecto pacato, que alinhava com a ideia que ficámos do apartamento que tínhamos reservado para passar duas noites. O problema é que não dávamos com o sítio… Ou melhor, ninguém respondia no número do edifício onde iríamos ficar… Andámos ali de volta à procura de alguma coisa que se assemelhasse a uma recepção, mas nada de nada… O Barradas agarrou no telefone e ligou para o contacto que figurava na reserva… E olha continuava a malapata das estadias… Ficámos a saber pelo fulano do outro lado da linha que havia um problema qualquer com aquele apartamento e que tinham tomado a liberdade de reservar um quarto triplo para nós no cangalho mais velho da capital. Ficámos ali a anhar uns minutos, mas que remédio… Siga pró desconhecido… Mais um bocado de fintas no trânsito a desviar destes malucos e chegávamos ao suposto hotel. Nada a ver com o pacato quarteirão… Estávamos numas ruas sombrias próximas da linha do metro, naquilo que me pareceu ser os arrabaldes da cidade. O hotel estava enfiado num prédio e já deveria ter alguns anos. Felizmente tinha garagem, aqui não ficaríamos certamente descansados com as motas na rua… Na recepção estava uma senhora loira com uma postura de frete... Antes de entrar na Áustria tinha a ideia formada que este era um país de trombudos, e até ver confirmava-se a minha teoria... Pessoal frio, muito pouco dado a simpatias.

Foi-nos atribuído um quarto para quatro pessoas nos fundilhos do hotel e… surpresa... duas camas de casal. Epá… Outra vez?!?!?! Já podiam parar com a cena das camas!... E agora como vamos resolver isto? Felizmente as camas de casal faziam-se com dois colchões individuais encostados. Foi só questão de sacar um para o chão e assim não havia cá misturas… mas caramba, que downgrade!

Uma das camitas - Viena, Áustria

Para quem ia ficar alojado num charmoso apartamento em zona pacata, fomos bem enganados! Enfim, depois de stressarmos todos um bocado, lá nos acomodámos, estávamos já um bocado cansados e também nesta altura do campeonato não haveria muito mais a fazer.

As excelente vistas - Viena, Áustria

Plano seguinte, procurar jantar… O céu estava meio cinzento, parecia estar a caminho a chuva. Não nos afastámos muito. Procurámos na rua principal a uns 100 metros do hotel. Não encontrámos muitas opções e acabámos por entrar num restaurante chinês com preços relativamente altos para nós e bem razoáveis para eles, a vida em Viena não é nada barata. O restaurante era pequeno mas tinha algum movimento, sobretudo com muito pessoal a recorrer ao takeaway.

Não demorou muito até termos o jantar na mesa, que estava bem bom... Durante a refeição lembro-me de ter ficado um bocado chocado com certa coisa. Noutra mesa do restaurante na minha diagonal estava também um jovem casal a jantar. Ele estava vestido normalmente como um puto de 16 ou 17 anos veste. Ela estava de burca negra na cabeça e deveria ter a mesma idade ou menos. O que é curioso, tirando o capuz negro pela cabeça, vestia normalmente para a sua idade (calça, camisola e ténis da moda)… Está certo que não sou nenhum entendido nos costumes do Islão, mas aquele visual não batia certo… Parecia que estava ali uma cantora de hip-hop de cabeça tapada… Provavelmente este será o resultado estranho da mistura de culturas tão distintas.

Nessa noite a Áustria tinha empatado com Portugal e o pessoal parecia andar um bocado mais maluco que de costume. Voltámos ao hotel e às nossas duas camas de casal… O Miguel estava aflito das costas depois de ter dado um jeito a tomar banho e o Rui tinha dormido numa cama improvisada de véspera, de maneira que era justo me calhar a dormida de colchão no chão. Saquei um dos colchões da cama do Rui e fiz a cama no meio do quarto… Menos mal… Então vá amigos… Vamos lá ao nosso merecido descanso!

24. Auschwitz I

Confesso que por esta altura, já sentia um sério desconforto... Mas a visita ainda não estava concluída. Tínhamos ainda o museu no Campo original (Auschwitz I) para ver a cerca de 2 quilómetros daqui. Regressámos ao parque e passámos pela loja onde tinham ficado os capacetes e blusões. A saída do estacionamento foi feita como a entrada, com um só bilhete na mão as três motas tiveram de passar alinhadas sob a cancela.

Num instante colocámo-nos no outro Campo que está mais no centro da cidade. Aqui o estacionamento também é pago. Carregados com capacetes e blusões fomos à procura do bengaleiro. Havia sim senhor, e também era pago…

As visitas ao museu são livres a partir das 15h00, no entanto têm de ser agendadas. Estava uma fila considerável para entrar. O nosso bilhete estava precisamente para as 15h00, mas com esta quantidade de gente à nossa frente, estava difícil cumprir o horário… Bem, na verdade não demorámos muito a chegar à porta e a conseguir entrar. A entrada faz-se passando por um detector de metais (como nos aeroportos) com a monitorização dos tais “Polícias do Museu”. Com a quantidade de gente doida que anda por aí facilmente se compreendem estas medidas de segurança.

Auschwitz I, Polónia

Depois passa-se por uns corredores que nos conduzem novamente ao exterior e à entrada do Campo. Avista-se logo o austero pórtico da entrada com a inscrição “Arbeit Macht Frei” (O Trabalho Liberta) muito presente nas fotos turísticas.

Portão de entrada - Auschwitz I, Polónia

Do lado direito deste, junto à vedação de arame farpado estão uns marcadores que serviam para os fuzilamentos.

Campo de fuzilamento - Auschwitz I, Polónia

Antes do extermínio em massa em câmara de gás, o método mais usual de execução era por bala. E, de facto, tendo sido este campo o primeiro, muitas execuções por fuzilamento e enforcamento se realizaram aqui. O local assusta. Estando grande parte de Birkenau II destruído, aqui tudo parece intacto. O choque do contraste é visceral. As vedações de arame farpado sucedem-se como labirintos e nelas ainda se consegue ver as placas de aviso de electrificação.

Auschwitz I, Polónia

O Campo resume-se a uma série de edifícios rectangulares de dois pisos, sombrios e alinhados geometricamente por uma área ampla. Ainda que o espaço seja grande, parece significativamente menor que Birkenau II.

Auschwitz I, Polónia

O museu está organizado por pavilhões (ou blocos), abordando cada um deles um tema.

Bloco 15 - Auschwitz I, Polónia

Chega a ser um pouco irónico. Estas antigas construções que no passado foram utilizadas para atrocidades, estão hoje a ser usadas para documentá-las ao mundo. Não irei descrever o que vimos em cada um, pois são de facto muitas exposições. No mínimo é preciso uma tarde para visitar todo o museu, e isto sem perder muito tempo em cada lugar. Tal a dimensão deste absurdo, ignóbil e abjecto momento da história humana aqui perpetuado.

Fotografia de época - Auschwitz I, Polónia

Existem diversos pavilhões cada um dedicado às vítimas dos povos e etnias perseguidas pelo regime nazi. Em cada um deles é possível ver historicamente o seu envolvimento na Grande Guerra e o sofrimento que aqui experienciaram.

Auschwitz I, Polónia

Noutro edifício é explicado o processo de extermínio onde se apresentam vários documentos de registo de entrada de prisioneiros, bem com uma maqueta com corte transversal de um crematório.

Formulários de admissão - Auschwitz I, Polónia

Maqueta de um crematório - Auschwitz I, Polónia

Também aí se conseguem ver empilhadas algumas latas usadas de Zylkon B.

Latas usadas de Zylkon B - Auschwitz I, Polónia

Ainda noutro, estão recriadas por várias salas as celas reservadas aos prisioneiros, conforme a sua evolução ao longo do tempo. A primeira não tinha mais que alguma palha no chão. Na última, já se conseguem ver beliches de madeira mal-amanhados. Pelo meio está também a reconstituição de uma latrina, de quarto de banho e de uma das salas dos guardas, onde seriam torturados e interrogados os detidos.

A exposição mais marcante será sem dúvida aquela dedicada às provas do Holocausto. Trata-se de um pavilhão onde em cada sala estão reunidos atrás de vitrinas - ou melhor dizendo, amontoados - os pertences dos prisioneiros que por aqui passaram.

Auschwitz I, Polónia

Numa sala estão expostos talheres, alguns toscos que se percebe ali terem sido fabricados. Noutra estão pratos e tachos em esmalte, e noutra uma pilha de sapatos gastos.

Auschwitz I, Polónia

Há ainda objectos de higiene pessoal, como pentes e ganchos. Atrás de outro vidro, centenas de próteses de pernas e braços e mais adiante uma pilha de óculos. Também numa sala estão expostas as malas com que alguns prisioneiros chegaram ao campo, muitas com os nomes escritos por fora. Tudo extremamente perturbante…

Auschwitz I, Polónia

Mas o soco no estômago chega quando se entra na sala onde, por detrás de um vidro largo, está exposta uma enorme quantidade de cabelo humano, rapado da cabeça dos que aqui estavam. Este cabelo servia como matéria-prima para a produção têxtil. Aquando da libertação de Auschwitz foram encontradas cerca de 7 toneladas de cabelo humano em armazém.

Noutro edifício estava patente uma exposição onde nas paredes tinham sido recriados pelo artista Michal Rovner os desenhos das crianças que estiveram aqui aprisionadas. Estima-se que cerca de um milhão e meio de crianças judias terá sido assassinadas durante Holocausto, muitas deixando poucas evidências da sua existência. No Campo foram encontrados vários desenhos nas paredes dos blocos estando aqui recriados alguns destes nas paredes desta sala.

Reprodução de desenhos - Auschwitz I, Polónia

Quase no final chegámos ao infame Bloco 11. Famoso no pior sentido pois aqui se perpetraram provavelmente as maiores atrocidades. Este edifício era considerado uma prisão dentro da prisão e estava reservado ao castigo por ofensas consideradas graves, como tentativa de fuga ou sabotagem no Campo. Também aqui eram guardados prisioneiros políticos até ao seu julgamento, sendo igualmente julgados no mesmo edifício.

Bloco 10 e 11 - Auschwitz I, Polónia

Entre o Bloco 10 e 11 estava uma parede de betão onde eram feitas as execuções por fuzilamento. Foi destruída com o final da Guerra, mas foi entretanto reconstruída.

Muro de fuzilamento - Auschwitz I, Polónia

O Bloco 11 estava equipado de salas especiais para diversas torturas, como uma câmara escura onde um prisioneiro ficaria fechado durante vários dias, e quatro celas com cerca de 1 metro quadrado onde eram alojadas 4 pessoas de cada vez. Nestas, os prisioneiros eram obrigados a ficar em pé havendo apenas uma abertura de 5 por 5 centímetros para não sufocarem. Tipicamente o castigo era aplicado durante um período de 10 dias, sendo que durante o dia os prisioneiros estariam sujeitos a trabalhos forçados. Foi também aqui que se efectuaram as primeiras experiências com o Zylkon B. Tudo é praticamente visitável e o acesso às celas e câmaras de tortura (no sub-solo) é feito em fila indiana de tão acanhado. Apesar de haver iluminação suficiente, o aspecto é escuro, opressivo e sufocante.

Já cá fora ainda é possível visitar o interior do Crematório I, ou melhor a reconstrução parcial do mesmo uma vez que o interior foi desmantelado em 1943.

Interior do Crematório I - Auschwitz I, Polónia

Saímos dali com a alma pesada. Na verdade, já o esperávamos. É difícil ficar insensível a este testemunho de carnificina em tão larga escala. Passar por aqui e assimilar o nível de terror que aqui se viveu, não deixa ninguém indiferente. A experiência não é agradável (nunca poderia ser) e no final só nos apetece sair dali e fugir. A energia negativa do local é tremenda e quase fisicamente palpável… Atenção, não estou com isto a desaconselhar a visita, antes pelo contrário. Todos os que tenham a oportunidade devem passar por aqui e ver as coisas pelos seus próprios olhos. Por muito descritivo que o meu relato seja não chega para descrever convenientemente a experiência… Nem mesmo lendo nos livros ou vendo na televisão não tem nem de longe, nem de perto a escala que é testemunhar o local… É uma experiência marcante que nos faz questionar sobre o que o ser humano é capaz e nos deixa um sentimento de repulsa e nojo deste local ou melhor, da sua história e do que significa.

O que estávamos a precisar era mesmo rolar de ventas ao vento para arejar estas cabeças. E os 300 e picos quilómetros pela frente de regresso à Eslováquia vinham mesmo a calhar. A primeira parte do percurso foi bastante agradável, com umas estradas secundárias e um troço pequeno junto a um bonito lago. Depois o resto do caminho foi feito por vias-rápidas. Já a chegar à fronteira trocámos os últimos Zlots (moeda polaca) que tínhamos em combustível. Próximo das 20h00 chegámos à fronteira e pouco depois entrávamos na cidade eslovaca de Čadca. Nada impressionante, uma típica cidade industrial cinzenta, ainda com resquícios de sovietismo. O hotel enquadrava-se no espírito.

À porta do hotel - Čadca, Eslováquia

Um edifício antigo, com pelo menos 40 anos e com uma recauchutagem parcial mais ou menos recente… Uma reforma do género mais ou menos aqui, mais ou menos ali… E também na recepção estava uma jovem mais ou menos profissional… Fez-nos pagar a logo a totalidade das estadias. Dois quartos, cada um com duas camas… Dado o preço em conta, aqui não teríamos de improvisar camas. Eu fiquei com um quarto só para mim, para poder ressonar à vontade... que gostoso! O Rui e o Miguel ficaram com o outro. Para variar, os quartos eram gigantes, assim como as casas de banho que tinham também uma banheira gigante em formato de quarto de Lua… A sanita era normal, graças a Deus! A mobília tinha um certo ar retro e havia uma longa varanda envidraçada que corria toda a frente do quarto. Despachámo-nos a descer e a ver do jantar, pois pelos jeitos as opções por aqui não seriam muitas… É pá genial! Uma praça com duas pizzarias!… Entre a mais adiante na praça e a do hotel ficámos com a do hotel… O Miguel acabou por escolher um prato de carne qualquer, eu e o Rui fomos à rodela de pão com tomate: nem bom, nem mau… antes pelo contrário. Eu nem acabei a minha…

Aqui o pessoal deita-se cedo. Pelas 22 horas parecia já não haver ninguém na rua. Também não ficámos por lá e recolhemos aos quartos do hotel. Ainda liguei o televisor por curiosidade… Só sintonizava um canal onde estava a dar um filme… O comando estava sem pilha e aquela hora faltou-me pachorra para andar a domesticar o descodificador… Boa noite e um queijo eslovaco!

23. Auschwitz II - Birkenau

Não dormi mal, o Miguel parece que também não e nem o Rui se queixou do seu cochicho improvisado. Recorde-se que ele tinha improvisado uma cama a partir de umas almofadas para resolver o problema de duas camas para três homens.

O quartinho - Namestovo, Eslováquia

Estava um dia radioso lá fora, com um ventinho fresco agradável. Descemos até ao salão para o pequeno-almoço, estava a matriarca a gerir a sala. Pequeno-almoço banal tipo buffet com tostas, queijo, carnes frias e uns bolos. Do interior via-se um campo de ténis mesmo em frente à casa.



Fiquei com a impressão que esta região estava mais focada para o turismo interno. Pagámos a estadia e fomos lá acima buscar as bagagens. Ainda antes de arrancar descemos até à beira do lago.

Até ao lago - Namestovo, Eslováquia

Havia ali um pequeno ancoradouro de serventia à casa. Era cedinho e já se viam um ou dois pescadores de cana armada. Muito simpático este local... Mas há que rumar a Norte.



De maneira que regressámos à estrada, continuando em direcção à Polónia. Passámos mais uma vez a ponte sobre o lago e do outro lado circundámos Namestovo para seguir em direcção à fronteira. Tirando aquele bocadinho giro à beira de água, parecia em tudo uma cidade industrial.

Mais campo, mais umas aldeias e ao cabo de uns quilómetros começámos a subir em direcção a uma floresta densa. Não que o cenário não estivesse agradável, mas estava a ficar ainda melhor! A estrada um pouco mais sinuosa também, estávamos a chegar à fronteira… A ver se nesta dava para tirar uma foto. Não demorou muito a chegarmos ao cimo e lá estava ela à nossa espera. Desta vez a foto não escapou! Tirámos umas belas chapas no local que marca o fim da Eslováquia e o começo da Polónia. Curiosamente, também aqui, zero controlo policial.



Na fronteira - Eslováquia/Polónia

Começava o tempo a aquecer e aproveitámos também para aliviar algum agasalho. Daqui em diante e até chegarmos a Auschwitz, sinceramente não me recordo de grandes paisagens. Ou que pelo menos que me tenham ficado na memória. Recordo-me de passar por várias aldeias, algumas mais rurais que outras. Mesmo as paisagens campestres são banais, nada que encha a vista.

Tivemos dois imprevistos no caminho: o primeiro fruto da lerdeza do GPS que teimava nos enviar por um matagal. Deixámo-lo a falar sozinho e seguimos em frente, mas foram preciso uns quantos quilómetros para o dito largar a teima; o segundo imprevisto, já próximo de Auschwitz, numa espécie de nacional estava tudo parado na sequência de um acidente. Aqui o GPS redimiu-se, e encontrou-nos um caminho por fora.

O tempo durante a manhã tinha estado muito quente. À medida que nos íamos aproximando do destino também por cima das nossas cabeças se estavam a juntar umas nuvens negras. Quando lá chegámos veio a chuva.

A entrada na cidade fez-se com o bocado de trânsito. Auschwitz será hoje em dia uma cidade normal como outra qualquer do país.

Tínhamos divido a nossa visita em duas partes, como tem que ser. E para isso é conveniente situar histórica e geograficamente o complexo de Auschwitz.

Quando se fala no Campo de Concentração Auschwitz-Birkenau (ou simplesmente Auschwitz), na verdade está-se a designar não um mas três campos de concentração em volta da cidade polaca de Oświęcim (pronunciado auch-vien-chim) ou em alemão Auschwitz. O complexo era constituído pelo campo Auschwitz I (o campo original), Auschwitz II – Birkenau (campo de extermínio), Auschwitz III – Monowitz (campo de trabalho) e 45 sub-campos satélites nos arredores. O primeiro campo está localizado na cidade de Auschwitz e o segundo foi edificado em cima da vila de Birkenau (a 2 quilómetros do primeiro). No terceiro, construído na vila de Monowitz (a 5 quilómetros do primeiro) operava uma fábrica de químicos onde os presos eram obrigados a trabalhar. Actualmente apenas o primeiro e segundo (os mais importantes) permanecem.

Ambos são visitáveis sem qualquer custo. No entanto apenas no segundo a entrada é livre a qualquer hora do dia. Os campos por esta altura estão abertos desde as 8h00 às 19h00, no entanto o acesso ao primeiro é restrito entre as 10h00 e 15h00 para visitas em grupo com guia (essas sim, pagas).

Assim optámos por fazer a visita por nossa conta, começando primeiro por Birkenau e depois Auschwitz com almoço pelo meio.

Mapa do complexo Auschwitz II / Birkenau - Birkenau, Polónia

Já caía água moderadamente quando fomos espreitar o Campo II.

O estacionamento não é permitido na estrada que passa à frente do campo, como nos informou uma espécie de vigilante que ali estava. Isto porque existe um espaço próprio pago a 100 metros dali. Sinceramente, não me choca. Até porque o acesso ao campo é gratuito e estas coisas têm que ser financiadas. Nada melhor do que fazê-lo fornecendo um serviço de estacionamento em parque fechado… Mas já tínhamos decidido fugir à chuva indo almoçar antes da visita, que andar por ali molhado também não é a melhor coisa. Parámos as motas junto à entrada do campo e o fulano continuava a gesticular que tínhamos de estacionar lá atrás. Eu fiz-lhe sinal que estava bem, mas que queríamos uma foto. E pedi-lhe se a podia tirar. Sem problemas e com um sorriso acedeu, passei-lhe a máquina para a mão e ora aqui está ela!

À beira de Auschwitz II - Birkenau, Polónia

Agradeci e fomos à nossa vida. Voltámos para o centro e parámos num pequeno centro comercial que ali havia. Ainda era um pouco cedo para o almoço, nada melhor que despachá-lo num restaurante fast-food qualquer. As motas ficavam estacionadas no parque subterrâneo o que também vinha a calhar pois livravam-se de ficar à chuva... Já no centro comercial, a variedade não era muita e optámos pelo “Kentucko”… Frangas polacas para todos se faz favor… Fazer o pedido foi pacífico, a miúda ao balcão desenrascava-se bem no inglês.

E melhor não poderia ser! O tempo de almoçarmos foi o suficiente para o céu desanuviar… A chuva ainda tinha sido alguma pois quando voltámos à estrada o piso estava bem molhado. Voltámos ao Campo II, e seguimos para o estacionamento. Aí foi-nos dito que bastaria um bilhete para as três motas, o que implicava também fazer uma entrada sincronizada no pórtico… Pouco depois vimos um grupo de umas dez motas (italianos ou romenos, já não me recordo) a entrar pelo passeio borrifando-se totalmente para pagamentos e barreiras.

Francamente não estou a ver que alguns cêntimos a cada um fizesse assim tanta diferença! É uma questão de civismo e quanto a isso não há meio-termo, ou se tem ou não se tem.

Deixámos os capacetes e blusões no edifício de apoio ao parque, que também serve de loja de lembranças, e seguimos para a entrada do Campo.

De fora a primeira impressão marcante que fica é a do edifício que servia de portaria e torre de vigia.

Entrada e torre de vigia - Birkenau, Polónia

Entrámos pela lateral onde estava um agente identificado como “Polícia do Museu”… Passada a vedação de arame farpado, avista-se logo uma área vasta e ampla.



À primeira vista é difícil perceber a real dimensão do campo, pois a grande maioria das construções estão destruídas. Todo o interior está meticulosamente divido e arrumado em secções, cada uma com a sua função. Aqui se vê de forma óbvia o metodismo característico dos alemães. Este lugar tinha um propósito, eliminar pessoas de forma expedita. E o número estimado de dois milhões de execuções indicia que o faziam muito eficientemente... 



As construções todas edificadas com tijolo burro eram feias, mas seguramente resistentes, práticas e económicas. A maioria dos barracões (e eram muitos) estava em ruínas e pouco mais se via do que uma espécie de chaminé que ainda permanecia. Um ou outro barracão mantinham-se de pé com algum custo, suportados por traves de madeira. Todos eles se encontravam fechados e nada se conseguia ver através das janelas escuras.



Fomos andando Campo adentro, passando pelas várias áreas delimitadas a arame farpado. Havia também algumas torres baixas de madeira, que se supõe (se forem de época) servissem à vigilância dos guardas. 



À excepção dos caminhos de acesso, todo o Campo estava coberto por um extenso manto verde de relva de boa altura. É curioso, achei que este apontamento de vida, conjugado com a belíssima textura de nuvens que estava presente no céu conferia ao espaço alguma “beleza”. Beleza não é provavelmente o termo certo, pois verdadeiramente aqui nada há de belo. No entanto todo este conjunto de cores naturais que teimava enquadrar o tom sombrio e sujo do campo, fazia desconfiar que a natureza estaria a reclamar para si o lugar aos poucos, ficando um sentimento ingénuo de que o planeta estaria provavelmente empenhado em apagar aquela triste memória.

Depois de passar a extensa área de barracões chega-se ao fundo do Campo e chega-se ao pior, os fornos crematórios. É preciso não esquecer o que aqui se fazia, relembro, extermínio em série… E para que a ideia dessa infeliz realidade passe de forma clara e explicita vou de seguida entrar em detalhes e pormenores.

Na Primavera de 1944, Auschwitz II - Birkenau atingiu o pico do seu propósito, conseguindo alcançar cerca de 4500 execuções por dia. Esta ordem de valores obrigava a uma eficiente e meticulosa operacionalização deste macabro processo. Tal era conseguido através de uns edifícios preparados para esse fim denominados por Crematórios. Quatro unidades deste tipo foram construídas neste Campo. Segundo as autoridades germânicas dois dos crematórios (Kremas II e III) tinham a capacidade de queimar 1440 corpos ao dia cada um, e os outros dois (Kremas IV e V), 768 cada um. No entanto os testemunhos de alguns prisioneiros indicam que as capacidades eram superiores. Estes números assustadores são bem representativos do inferno que aqui se vivia.

Planta do Crematório III - Birkenau, Polónia

Embora o propósito inicial da unidade II fosse a de servir de morgue, estes edifícios não eram apenas fornalhas que consumiam corpos, na verdade eram unidades completas de processamento para assassínio em massa. Os prisioneiros entravam nos Crematórios para uma câmara no subsolo suficientemente ampla. Aí era-lhes pedido que se despissem, sob a suposta necessidade de tomarem banho. Era-lhes dada ordem para que deixassem os seus pertences bem arrumados para que logo depois do banho os pudessem reaver. Despidos de roupa e dignidade, transitavam para outra câmara onde no tecto estavam instalados chuveiros. Mas o que se seguia não era um banho. Esta câmara disfarçada de balneário era na verdade a câmara de gás onde depois de fechados era libertado o gás letal. A substância utilizada era o cianeto de hidrogénio obtido a partir de um pesticida conhecido por Zylkon B (ou Ciclone B). Até à data este pesticida era utilizado na fumigação e limpeza de bens e áreas. Após algumas experiências os oficiais das SS descobriram que em contacto com água e calor este pesticida libertava cianeto de hidrogénio, um gás venoso que interfere na respiração celular. A morte num ser humano de 68 quilograma ocorre ao cabo de 2 minutos com a inalação de 70 miligrama deste gás. Após o extermínio a câmara de gás era arejada, seguindo-se o processamento dos cadáveres. Ainda antes dos corpos serem deitados às fornalhas, como lixo, para serem incinerados, retirava-se o ouro nos dentes. O cabelo já lhes tinha sido rapado à chegada ao campo para ser despachado para a indústria têxtil germânica. Finalmente, as cinzas recolhidas das fornalhas eram despejadas logo ali, no exterior do crematório.

Crematório III - Birkenau, Polónia

Com a chegada do fim da Guerra, no final de 1944 foi ordenado o desmantelamento dos crematórios e em Janeiro de 1945 as SS rebentam com o que ainda restava. Após o fim da Guerra em 1945 os produtores do Zylkon B foram submetidos a julgamento e executados por fornecerem em consciência o pesticida para extermínio de seres humanos. Só para Auschwitz estima-se que tenham sido entregues 26,8 toneladas de Zylkon B entre 1942 e 1944.

Ruínas do Crematório II (frente) - Burkenau, Polónia

Ruínas do Crematório II (câmara de entrada (C)) - Birkenau, Polónia

Local onde eram despejadas as cinzas (J) - Birkenau, Polónia

O que se pode ver hoje em dia deverá ser muito parecido com o que ficou no dia em que os nazis abandonaram o campo. Aliás esta é impressão geral com que fiquei de todo o lugar. Tudo está minimamente preservado, parece existir a preocupação lógica de não adulterar a memória e de mostrar as coisas ao mundo tal como aconteceram. Tudo o que foi reconstruído está assinalado e identificado e é de facto muito pouco. Dos Crematórios pouco mais resta do que um amontoado de destroços, sujo e podre. Mesmo assim e recorrendo à explicação dos placares informativos conseguimos entender o que está à nossa frente. As fornalhas foram removidas mas é ainda perceptível a entrada pela qual os prisioneiros seguiam para a câmara de entrada no subsolo e onde se despiam e deixavam as suas roupas antes de enfrentar a morte. À frente das ruínas está uma placa que nos recorda que por ali foram lançadas as cinzas de milhares de pessoas.

Entres os Crematórios está instalado o monumento ao Holocausto. Uma escultura suja, amontoada, com ar caótico.

Monumento ao Holocausto - Birkenau, Polónia

O aspecto é estranho mas creio que em termos de mensagem não poderia estar mais adequado.



Os prisioneiros eram trazidos por linha férrea, amontoados em vagões diminutos.



Esta linha que passa pelo edifício da portaria segue campo dentro até ao fundo, onde estão os Crematórios. Esta é provavelmente a imagem mais conhecida deste campo. Existem milhares de fotos daqui.





Dentro de Auschwitz existe um cais do lado direito que acompanha a linha. Era nesse local que eram descarregadas as pessoas dos vagões. Mais ou menos a meio é possível ver uma foto de época e respectiva informação.



Logo aqui à chegada, precisamente neste lugar era feita a triagem. Os guardas das SS separavam a dedo os mais fracos, sendo o destino destes a execução imediata. Dali, outros seguiam a pé até aos Crematórios, onde os aguardava o processo de extermínio descrito acima. Tudo decidido ali, fria e metodicamente sem qualquer respeito pela vida... Conseguir enquadrar o lugar onde me encontrava com aquela foto onde se via centenas de pessoas a serem seleccionadas para a morte deu-me, não um clique, mas sim uma pancada no cérebro. Durante alguns minutos comecei a imaginar os infelizes a caminhar penosamente por aquele cais sem desconfiar o que os esperava. E com isto, tenho de confessar, fui-me abaixo... Por muito que um tipo se distancie ou ande por aqui com o espírito de turista é difícil encaixar todo este nível de eficiente perversidade, crueldade, frieza e sadismo. A guerra é dura, combate-se, morre-se, há destruição e vítimas de parte-a-parte... Mas nada disto tem a ver com guerra… Isto é apenas ódio, escuridão. Um ódio doentio dirigido e premeditado. O Mal na sua forma mais pura e abjecta. Aqui se testemunha o que pode suceder quando o extremismo alcança o poder… Todos têm que forçosamente aprender com esta vergonha para a espécie humana, que pensando bem, não está assim tão longe… 70 anos separam-nos do fim da Grande Guerra, aproximadamente uma geração…



Confesso que por esta altura, já sentia um sério desconforto... Mas a visita ainda não estava concluída. Tínhamos ainda o museu no campo original para ver, a cerca de 2 quilómetros daqui. Regressámos ao parque e passámos pela loja onde tinham ficado os capacetes e blusões. A saída do estacionamento foi feita como a entrada, com um só bilhete na mão e as três motas a passar alinhadas sob a cancela.