25. Um cheirinho de Checa

Próximo destino: Viena. Não sem antes papar uma boa dose de quilómetros até lá! Poderíamos ter feito o caminho mais curto, mas tal implicava atravessar a Eslováquia em autoestrada até Bratislava (a capital) e daí então até Viena (distam uma da outra de 78 quilómetros). Dado que havia vagar e para poupar uns trocos decidimos fazer a coisa por nacionais e espreitar algumas coisas de caminho. Tínhamos duas opções: fazer o percurso inteiramente pela Eslováquia, ou subir um pouco até à República Checa e descer por aí até à Áustria. Optámos pela segunda. Durante o planeamento do itinerário tinham-se preparado os dois trajectos. Mas logo durante pesquisa nos pareceu que o lado Checo tinha mais encanto e ainda carimbávamos mais um país no “passaporte”!

Outrora unidos na Checoslováquia sob a égide do sovietismo, fica a impressão que a República Checa leva alguma vantagem sobre a Eslováquia. Os checos estão mais industrializados e isso vê-se nalguma opulência das suas cidades, com edifícios históricos e igrejas monumentais.

O quartinho - Čadca, Eslováquia

Saímos então de Čadca pela manhã cedinho, depois de tomar o pequeno-almoço no restaurante do hotel onde tínhamos jantado de véspera.

Limpeza matinal - Čadca, Eslováquia

O dia estava soalheiro e fresco, perfeito para devorar quilómetros. Não demorou muito até chegarmos à fronteira, que passámos sem qualquer problema. O receio que tínhamos de ter algumas dificuldades nalguns postos fronteiriços (na sequência da crise dos refugiados) não se verificou. Passámos todas as fronteiras sem qualquer reparo, aliás durante toda a viagem não vimos sequer qualquer controlo em nenhuma delas.

A entrada foi em grande: começámos por atravessar a região montanhosa dos Beskides (parte da cordilheira dos Cárpatos) situada junto à fronteira de Sudeste... muito catita sim senhor! Floresta de pinheiro alpino densa e carradas de povo em duas rodas na estrada, bicicleta e motociclo. Solinho com uma temperatura a rondar os 20ºC, as condições perfeitas para viajar. Passámos por uma ou outra estância de Inverno, que por esta altura estão paradas, como é natural. Tínhamos de caminho duas ou três cidades para apreciar. Também estava planeada uma paragem em Rožnov pod Radhoštěm, uma pequena vila que preserva ainda uma pitoresca aldeia museu do género de Vlkolínec que visitámos na nossa primeira incursão na Eslováquia.

Depois da montanha passámos por uma região mais agrícola com campos de cultivo extensos, muito parecido com o que também vimos no país do lado. Algures durante o percurso decidimos que não seria má ideia tirar um retrato... Encostámos junto a um caminho de terra batida, parecia ser um bom local para a foto. O estradão era um pouco irregular com alguns regos de rodas de tractor. O Sol já devia estar a pique e a temperatura já estava quente. Ainda suámos um bocadinho a ajeitar as motas para fotografia.

No campo - República Checa

Camufladas - República Checa

Quando já íamos na segunda foto, eis que aparece um tractor no caminho… Bolas!... Estava um fulano novo ao volante, mais um pequenote ao lado dele e atrás um velhote. O condutor mandou-nos um sorriso largo e arranhou qualquer coisa em checo… Já não me recordo como foi, mas percebemos que estava a perguntar-nos de onde éramos. Dissemos “Portugal”, e o tipo percebeu à primeira, respondendo um “Portugalscko!” ou algo do género… Ficaram todos contentes em nos ver, e nem foi preciso desviar as motas! Passaram ao lado por cima das ervas e foram à vida deles… Bem simpático o pessoal daqui.

O que não foi nada simpático, foi aquando uma daquelas passagens por uma aldeia, o GPS manda-nos por ruelas para no fim voltar à estrada principal. O problema é que o regresso à nacional era feito por uma estrada secundária um bocado íngreme e praticamente perpendicular. Entradas deste tipo têm de ser feitas com cautela, para não virar o “barco”. Seguia à frente e fiz a paragem normal para ver se a estrada estava livre. Até onde podia ver estava OK, quando lhe dou acelerador vejo uma “bala” a sair da povoação (um acelera numa desportiva qualquer). Tive de travar a marcha e com isso fiquei com a mota de direcção virada o que provocou um desequilíbrio. Com muita força de braço segurei o tigre pelo cachaço e por pouco não virámos as “palhetas” os dois… O filho de uma égua checa com a velocidade que ia nem se apercebeu da nossa presença! Se tivéssemos chegado ali instantes antes éramos capazes de ter arranjado problemas… Felizmente estava tudo bem, siga por esta estrada fora!

Chegámos a Rosnó-coiso-e-tal e logo o GPS nos levou ao núcleo museológico do sítio. Enquanto que aquela típica aldeia Eslovaca se encontrava perdida na encosta da montanha, esta estava no meio da cidade. Logo por isso perdeu algum encanto… Depois encontrava-se vedada e com acesso condicionado… 

Estacionámos as Tigers e fomos espreitar. Logo à entrada há uma bilheteira onde se encontra afixado o preçário: o bilhete para a volta completa estava nas 200 corôas checas (cerca de 7,5 euros) sendo também possível visitar apenas algumas partes a outros custos. Curiosamente aqui até os animais pagam, cerca de 2 euros para o acesso livre a todas as áreas… Sendo assim fica para uma próxima. Tínhamos as corôas contadas e ainda o nosso almoço para pagar.

Fomos rolando para Oeste passando por algumas cidades de média dimensão. Algo que se nota é a beleza dos centros históricos: igrejas com torres monumentais e a decoração de época cuidada nos edifícios mais antigos. Tudo impecavelmente estimado.

Estava na hora de almoçar e só conseguimos parar em Přerov. Estacionámos na praça principal mesmo em frente à esplanada de um restaurante.

A chegar para o almoço - Přerov, República Checa

O tempo estava bom, nada melhor do que almoçar ali mesmo.

Přerov, República Checa

Fomos atendidos por um jovem que arranhava qualquer coisita de inglês. Mesmo sem ver o interior, o restaurante parecia ter alguma pinta. Vimos a ementa e optámos todos pelos dumplings típicos daqui, que é basicamente um prato de carne acompanhado com fatias de pão (come-se muito pão por aqui), tudo mergulhado num molho bem condimentado que mais parecia uma sopa... Estava-se mesmo muito bem à sombra nesta esplanada.

O almocinho - Přerov, República Checa

Via-se pouco movimento na rua, pareceu-nos que havia ali por perto algum festejo pois algumas ruas estavam cortadas e andava pessoal com trajos típicos.

Praça principal - Přerov, República Checa

A comida estava boa e saborosa e sempre variava um pouco… E claro, não resistimos a mandar vir sobremesa!

A sobremesa - Přerov, República Checa

De novo na estrada, já a descer um pouco para Sul parámos noutra cidade, Prostějov. Como nas outras por onde passámos, aqui também se notava a riqueza histórica da arquitectura na praça central.

Prostějov, República Checa

Demos uma volta à praça para espreitar e tirar umas fotos.

Prostějov, República Checa

Apreciavam-se vários edifícios históricos com fachada trabalhada e imaculadamente preservada.

Prostějov, República Checa

A dominar a praça estava uma igreja com uma torre de dimensão colossal, infelizmente estava em obras.

Prostějov, República Checa

Bom, e está visto, não ficámos muito mais tempo por ali.

Continuámos o nosso caminho tranquilamente, sempre afastados da autoestrada, para ir apreciando o cenário. Passámos ao lado de Brno, que é a segunda maior cidade da República Checa. Não havia tempo e creio sobretudo que pachorra, para nos enfiarmos no meio da confusão… Amanhã com certeza haverá muito para ver também em Viena. E por falar nisso já não falta tudo para lá chegar. Ainda uma passagem pela bonita região de Pálava que faz fronteira com a Áustria. A entrada faz-se depois de atravessar uma albufeira de dimensões generosas.

Vista da albufeira - Pálava, República Checa

Parámos um pouco antes de chegar à Áustria para tirar um retrato.

A chegar à Áustria - Pálava, República Checa

O tempo continuava bom, ainda que um pouco mais fresco com o cair do Sol… Logo ao entrar na Áustria tínhamos de tratar da vinheta, já que íamos fazer o acesso à capital por autoestrada. Parámos numa barraquita mas aparentemente aí só vendiam vinhetas para automóveis. Seguimos até à próxima estação de serviço e aí conseguimos adquirir as ditas… Aproveitei para comprar uma garrafa de água, mas só depois de abrir é que me apercebi que era gaseificada… Este pessoal bebe água com gás como se não houvesse amanhã! Fica a dica, para evitar o mesmo deve-se escolher a água para as meninas, as da tampa rosinha, são essas as de água mineral não gaseificada… Daqui em diante o percurso tornou-se pouco interessante e rapidamente entrámos na autoestrada que nos levaria até à entrada da capital. Seguimos o GPS em direcção ao ponto marcado para a pernoita. Já no centro o trânsito estava caótico e aqui começámos a comprovar a falta de civismos destes tipos ao volante. Dois espelhos não chegam para controlar as manobras desta malta e é preciso ser rápido na mão direita, manete e punho! O pessoal fura por todo o lado, carrega no acelerador e ignora a sinalização quando dá jeito… Depois de um bom bocado disto chegámos a um quarteirão com aspecto pacato, que alinhava com a ideia que ficámos do apartamento que tínhamos reservado para passar duas noites. O problema é que não dávamos com o sítio… Ou melhor, ninguém respondia no número do edifício onde iríamos ficar… Andámos ali de volta à procura de alguma coisa que se assemelhasse a uma recepção, mas nada de nada… O Barradas agarrou no telefone e ligou para o contacto que figurava na reserva… E olha continuava a malapata das estadias… Ficámos a saber pelo fulano do outro lado da linha que havia um problema qualquer com aquele apartamento e que tinham tomado a liberdade de reservar um quarto triplo para nós no cangalho mais velho da capital. Ficámos ali a anhar uns minutos, mas que remédio… Siga pró desconhecido… Mais um bocado de fintas no trânsito a desviar destes malucos e chegávamos ao suposto hotel. Nada a ver com o pacato quarteirão… Estávamos numas ruas sombrias próximas da linha do metro, naquilo que me pareceu ser os arrabaldes da cidade. O hotel estava enfiado num prédio e já deveria ter alguns anos. Felizmente tinha garagem, aqui não ficaríamos certamente descansados com as motas na rua… Na recepção estava uma senhora loira com uma postura de frete... Antes de entrar na Áustria tinha a ideia formada que este era um país de trombudos, e até ver confirmava-se a minha teoria... Pessoal frio, muito pouco dado a simpatias.

Foi-nos atribuído um quarto para quatro pessoas nos fundilhos do hotel e… surpresa... duas camas de casal. Epá… Outra vez?!?!?! Já podiam parar com a cena das camas!... E agora como vamos resolver isto? Felizmente as camas de casal faziam-se com dois colchões individuais encostados. Foi só questão de sacar um para o chão e assim não havia cá misturas… mas caramba, que downgrade!

Uma das camitas - Viena, Áustria

Para quem ia ficar alojado num charmoso apartamento em zona pacata, fomos bem enganados! Enfim, depois de stressarmos todos um bocado, lá nos acomodámos, estávamos já um bocado cansados e também nesta altura do campeonato não haveria muito mais a fazer.

As excelente vistas - Viena, Áustria

Plano seguinte, procurar jantar… O céu estava meio cinzento, parecia estar a caminho a chuva. Não nos afastámos muito. Procurámos na rua principal a uns 100 metros do hotel. Não encontrámos muitas opções e acabámos por entrar num restaurante chinês com preços relativamente altos para nós e bem razoáveis para eles, a vida em Viena não é nada barata. O restaurante era pequeno mas tinha algum movimento, sobretudo com muito pessoal a recorrer ao takeaway.

Não demorou muito até termos o jantar na mesa, que estava bem bom... Durante a refeição lembro-me de ter ficado um bocado chocado com certa coisa. Noutra mesa do restaurante na minha diagonal estava também um jovem casal a jantar. Ele estava vestido normalmente como um puto de 16 ou 17 anos veste. Ela estava de burca negra na cabeça e deveria ter a mesma idade ou menos. O que é curioso, tirando o capuz negro pela cabeça, vestia normalmente para a sua idade (calça, camisola e ténis da moda)… Está certo que não sou nenhum entendido nos costumes do Islão, mas aquele visual não batia certo… Parecia que estava ali uma cantora de hip-hop de cabeça tapada… Provavelmente este será o resultado estranho da mistura de culturas tão distintas.

Nessa noite a Áustria tinha empatado com Portugal e o pessoal parecia andar um bocado mais maluco que de costume. Voltámos ao hotel e às nossas duas camas de casal… O Miguel estava aflito das costas depois de ter dado um jeito a tomar banho e o Rui tinha dormido numa cama improvisada de véspera, de maneira que era justo me calhar a dormida de colchão no chão. Saquei um dos colchões da cama do Rui e fiz a cama no meio do quarto… Menos mal… Então vá amigos… Vamos lá ao nosso merecido descanso!

24. Auschwitz I

Confesso que por esta altura, já sentia um sério desconforto... Mas a visita ainda não estava concluída. Tínhamos ainda o museu no Campo original (Auschwitz I) para ver a cerca de 2 quilómetros daqui. Regressámos ao parque e passámos pela loja onde tinham ficado os capacetes e blusões. A saída do estacionamento foi feita como a entrada, com um só bilhete na mão as três motas tiveram de passar alinhadas sob a cancela.

Num instante colocámo-nos no outro Campo que está mais no centro da cidade. Aqui o estacionamento também é pago. Carregados com capacetes e blusões fomos à procura do bengaleiro. Havia sim senhor, e também era pago…

As visitas ao museu são livres a partir das 15h00, no entanto têm de ser agendadas. Estava uma fila considerável para entrar. O nosso bilhete estava precisamente para as 15h00, mas com esta quantidade de gente à nossa frente, estava difícil cumprir o horário… Bem, na verdade não demorámos muito a chegar à porta e a conseguir entrar. A entrada faz-se passando por um detector de metais (como nos aeroportos) com a monitorização dos tais “Polícias do Museu”. Com a quantidade de gente doida que anda por aí facilmente se compreendem estas medidas de segurança.

Auschwitz I, Polónia

Depois passa-se por uns corredores que nos conduzem novamente ao exterior e à entrada do Campo. Avista-se logo o austero pórtico da entrada com a inscrição “Arbeit Macht Frei” (O Trabalho Liberta) muito presente nas fotos turísticas.

Portão de entrada - Auschwitz I, Polónia

Do lado direito deste, junto à vedação de arame farpado estão uns marcadores que serviam para os fuzilamentos.

Campo de fuzilamento - Auschwitz I, Polónia

Antes do extermínio em massa em câmara de gás, o método mais usual de execução era por bala. E, de facto, tendo sido este campo o primeiro, muitas execuções por fuzilamento e enforcamento se realizaram aqui. O local assusta. Estando grande parte de Birkenau II destruído, aqui tudo parece intacto. O choque do contraste é visceral. As vedações de arame farpado sucedem-se como labirintos e nelas ainda se consegue ver as placas de aviso de electrificação.

Auschwitz I, Polónia

O Campo resume-se a uma série de edifícios rectangulares de dois pisos, sombrios e alinhados geometricamente por uma área ampla. Ainda que o espaço seja grande, parece significativamente menor que Birkenau II.

Auschwitz I, Polónia

O museu está organizado por pavilhões (ou blocos), abordando cada um deles um tema.

Bloco 15 - Auschwitz I, Polónia

Chega a ser um pouco irónico. Estas antigas construções que no passado foram utilizadas para atrocidades, estão hoje a ser usadas para documentá-las ao mundo. Não irei descrever o que vimos em cada um, pois são de facto muitas exposições. No mínimo é preciso uma tarde para visitar todo o museu, e isto sem perder muito tempo em cada lugar. Tal a dimensão deste absurdo, ignóbil e abjecto momento da história humana aqui perpetuado.

Fotografia de época - Auschwitz I, Polónia

Existem diversos pavilhões cada um dedicado às vítimas dos povos e etnias perseguidas pelo regime nazi. Em cada um deles é possível ver historicamente o seu envolvimento na Grande Guerra e o sofrimento que aqui experienciaram.

Auschwitz I, Polónia

Noutro edifício é explicado o processo de extermínio onde se apresentam vários documentos de registo de entrada de prisioneiros, bem com uma maqueta com corte transversal de um crematório.

Formulários de admissão - Auschwitz I, Polónia

Maqueta de um crematório - Auschwitz I, Polónia

Também aí se conseguem ver empilhadas algumas latas usadas de Zylkon B.

Latas usadas de Zylkon B - Auschwitz I, Polónia

Ainda noutro, estão recriadas por várias salas as celas reservadas aos prisioneiros, conforme a sua evolução ao longo do tempo. A primeira não tinha mais que alguma palha no chão. Na última, já se conseguem ver beliches de madeira mal-amanhados. Pelo meio está também a reconstituição de uma latrina, de quarto de banho e de uma das salas dos guardas, onde seriam torturados e interrogados os detidos.

A exposição mais marcante será sem dúvida aquela dedicada às provas do Holocausto. Trata-se de um pavilhão onde em cada sala estão reunidos atrás de vitrinas - ou melhor dizendo, amontoados - os pertences dos prisioneiros que por aqui passaram.

Auschwitz I, Polónia

Numa sala estão expostos talheres, alguns toscos que se percebe ali terem sido fabricados. Noutra estão pratos e tachos em esmalte, e noutra uma pilha de sapatos gastos.

Auschwitz I, Polónia

Há ainda objectos de higiene pessoal, como pentes e ganchos. Atrás de outro vidro, centenas de próteses de pernas e braços e mais adiante uma pilha de óculos. Também numa sala estão expostas as malas com que alguns prisioneiros chegaram ao campo, muitas com os nomes escritos por fora. Tudo extremamente perturbante…

Auschwitz I, Polónia

Mas o soco no estômago chega quando se entra na sala onde, por detrás de um vidro largo, está exposta uma enorme quantidade de cabelo humano, rapado da cabeça dos que aqui estavam. Este cabelo servia como matéria-prima para a produção têxtil. Aquando da libertação de Auschwitz foram encontradas cerca de 7 toneladas de cabelo humano em armazém.

Noutro edifício estava patente uma exposição onde nas paredes tinham sido recriados pelo artista Michal Rovner os desenhos das crianças que estiveram aqui aprisionadas. Estima-se que cerca de um milhão e meio de crianças judias terá sido assassinadas durante Holocausto, muitas deixando poucas evidências da sua existência. No Campo foram encontrados vários desenhos nas paredes dos blocos estando aqui recriados alguns destes nas paredes desta sala.

Reprodução de desenhos - Auschwitz I, Polónia

Quase no final chegámos ao infame Bloco 11. Famoso no pior sentido pois aqui se perpetraram provavelmente as maiores atrocidades. Este edifício era considerado uma prisão dentro da prisão e estava reservado ao castigo por ofensas consideradas graves, como tentativa de fuga ou sabotagem no Campo. Também aqui eram guardados prisioneiros políticos até ao seu julgamento, sendo igualmente julgados no mesmo edifício.

Bloco 10 e 11 - Auschwitz I, Polónia

Entre o Bloco 10 e 11 estava uma parede de betão onde eram feitas as execuções por fuzilamento. Foi destruída com o final da Guerra, mas foi entretanto reconstruída.

Muro de fuzilamento - Auschwitz I, Polónia

O Bloco 11 estava equipado de salas especiais para diversas torturas, como uma câmara escura onde um prisioneiro ficaria fechado durante vários dias, e quatro celas com cerca de 1 metro quadrado onde eram alojadas 4 pessoas de cada vez. Nestas, os prisioneiros eram obrigados a ficar em pé havendo apenas uma abertura de 5 por 5 centímetros para não sufocarem. Tipicamente o castigo era aplicado durante um período de 10 dias, sendo que durante o dia os prisioneiros estariam sujeitos a trabalhos forçados. Foi também aqui que se efectuaram as primeiras experiências com o Zylkon B. Tudo é praticamente visitável e o acesso às celas e câmaras de tortura (no sub-solo) é feito em fila indiana de tão acanhado. Apesar de haver iluminação suficiente, o aspecto é escuro, opressivo e sufocante.

Já cá fora ainda é possível visitar o interior do Crematório I, ou melhor a reconstrução parcial do mesmo uma vez que o interior foi desmantelado em 1943.

Interior do Crematório I - Auschwitz I, Polónia

Saímos dali com a alma pesada. Na verdade, já o esperávamos. É difícil ficar insensível a este testemunho de carnificina em tão larga escala. Passar por aqui e assimilar o nível de terror que aqui se viveu, não deixa ninguém indiferente. A experiência não é agradável (nunca poderia ser) e no final só nos apetece sair dali e fugir. A energia negativa do local é tremenda e quase fisicamente palpável… Atenção, não estou com isto a desaconselhar a visita, antes pelo contrário. Todos os que tenham a oportunidade devem passar por aqui e ver as coisas pelos seus próprios olhos. Por muito descritivo que o meu relato seja não chega para descrever convenientemente a experiência… Nem mesmo lendo nos livros ou vendo na televisão não tem nem de longe, nem de perto a escala que é testemunhar o local… É uma experiência marcante que nos faz questionar sobre o que o ser humano é capaz e nos deixa um sentimento de repulsa e nojo deste local ou melhor, da sua história e do que significa.

O que estávamos a precisar era mesmo rolar de ventas ao vento para arejar estas cabeças. E os 300 e picos quilómetros pela frente de regresso à Eslováquia vinham mesmo a calhar. A primeira parte do percurso foi bastante agradável, com umas estradas secundárias e um troço pequeno junto a um bonito lago. Depois o resto do caminho foi feito por vias-rápidas. Já a chegar à fronteira trocámos os últimos Zlots (moeda polaca) que tínhamos em combustível. Próximo das 20h00 chegámos à fronteira e pouco depois entrávamos na cidade eslovaca de Čadca. Nada impressionante, uma típica cidade industrial cinzenta, ainda com resquícios de sovietismo. O hotel enquadrava-se no espírito.

À porta do hotel - Čadca, Eslováquia

Um edifício antigo, com pelo menos 40 anos e com uma recauchutagem parcial mais ou menos recente… Uma reforma do género mais ou menos aqui, mais ou menos ali… E também na recepção estava uma jovem mais ou menos profissional… Fez-nos pagar a logo a totalidade das estadias. Dois quartos, cada um com duas camas… Dado o preço em conta, aqui não teríamos de improvisar camas. Eu fiquei com um quarto só para mim, para poder ressonar à vontade... que gostoso! O Rui e o Miguel ficaram com o outro. Para variar, os quartos eram gigantes, assim como as casas de banho que tinham também uma banheira gigante em formato de quarto de Lua… A sanita era normal, graças a Deus! A mobília tinha um certo ar retro e havia uma longa varanda envidraçada que corria toda a frente do quarto. Despachámo-nos a descer e a ver do jantar, pois pelos jeitos as opções por aqui não seriam muitas… É pá genial! Uma praça com duas pizzarias!… Entre a mais adiante na praça e a do hotel ficámos com a do hotel… O Miguel acabou por escolher um prato de carne qualquer, eu e o Rui fomos à rodela de pão com tomate: nem bom, nem mau… antes pelo contrário. Eu nem acabei a minha…

Aqui o pessoal deita-se cedo. Pelas 22 horas parecia já não haver ninguém na rua. Também não ficámos por lá e recolhemos aos quartos do hotel. Ainda liguei o televisor por curiosidade… Só sintonizava um canal onde estava a dar um filme… O comando estava sem pilha e aquela hora faltou-me pachorra para andar a domesticar o descodificador… Boa noite e um queijo eslovaco!